PARADA NO CAFÉ DAS ALMAS

Havia — em minha memória segue havendo — a meio caminho entre Anajé e Vitória da Conquista, um estabelecimento comercial chamado Café das Almas. Era impossível não notá-lo. Ficava no alto de uma serra e ali se servia coalhada, requeijão e café fresco. Muitos viajantes paravam; menos eu, que naquele tempo ainda não viajava sozinho. O lugar me causava estranheza, muito por conta dessa coisa bem interiorana de ficar o tempo todo associando a palavra alma a falecimentos, cemitérios, rosas, missas e padres no altar. Mas esse mesmo Café das Almas também exercia fascínio sobre mim. Era possível notar um ar de surpresa e em seguida descontração nos frequentadores que eu via entrar e sair do local. Só mais tarde, já no fim da minha adolescência, tive a revelação: os viajantes apreciavam a parada no Café das Almas porque o seu proprietário era um exímio contador de histórias com uma peculiaridade impiedosa e inalterável: suas histórias tinham, invariavelmente, começo e meio, mas nunca um fim.

Bem, o Café das Almas segue sendo esse local idílico onde ainda se conta uma boa história. E é por isso que estamos batizando como Café das Almas este espaço dedicado aos escritores que irão aqui nos contar histórias do mundo dos livros, histórias com ou sem fim.

Rosel Bonfim Soares

 

O ESCRITOR NA VITRINE